O Artista


De André Malta

Admito que assisti ao filme The Artist (O Artista),  um dos indicados ao Oscar de melhor filme este ano, com um pouco de preconceito. Isso porque fiquei sabendo que era um filme mudo e em preto e branco. Daí pensei:  Será que ainda há entretenimento em  filmes assim ou deveriam ser uma mera opção para cinéfilos saudosistas e alunos do curso de cinema?

As perguntas vieram à cabeça, mas logo foram dizimadas pós dez minutos de filme. A partir daí o espectador é convidado a uma história diferente daquelas dos dias atuais, ela nos convida a voltar ao passado e como um espectador do século 20 embarcamos na história de um homem no auge de sua carreira de artista.

George Valentin é um ator de cinema mudo que faz um enorme sucesso com seus filmes ao lado do seu inseparável cãozinho. Até o dia em que conhece Peppy Miller, uma fã que acaba dando a sorte de conhecê-lo pessoalmente surgindo dessa oportunidade a vontade de se lançar na carreira de atriz. E é em um filme de George que ela tem sua primeira chance, devido a ajuda do próprio ídolo. No entanto o destino o preparava uma surpresa.

A vida de George muda por completo quando seu chefe tem a idéia de migrar do cinema mudo para o falado. George acaba subestimando a idéia, não vendo naquilo nenhum futuro. No entanto pra sua surpresa, tanto teve futuro como acaba trazendo para si o seu declínio. Não é bom falar mais do filme. No entanto deve-se dizer: Assista-o!

The Artist conta com um roteiro belíssimo, ainda mais se levando em conta o fato de ser um filme mudo, onde os diálogos presentes são feitos através de frases colocadas entre uma cena e outra. Cenografia e figurino (não levando em conta as cores por motivos óbvios) são outros destaques, transferindo a impressão de estarmos assistindo a um filme gravado realmente naquela época.

Falando-se em época, a História também é lembrada no filme por intermédio da crise de 29, retratada em uma de suas cenas. Mas nada merece ser mais digno de elogios do que as interpretações dos protagonistas de The Artist. O ator francês Jean Dujardin e a franco argentina Berenice Bejo dão um show a parte. Em um filme recheado de belas atuações até o pequeno cachorrinho de George Valentin parecia ganhar anos de estudos teatrais e acrescentar mais vida ao personagem ao contemplar o filme com uma ótima atuação (?!).

Mas o filme é só coisa boa? Poderia até ser, mas eu ainda consigo encontrar defeitos em uma obra de arte. Apesar do ótimo roteiro, fica claro entender aonde ele vai nos levar. Desde meados do filme já identificamos um provável final. Mas isso tira algum mérito de The Artist? Lógico que não. Apesar de saber aonde vai nos levar, o roteiro cria uma espécie rápida de indagações na cabeça do espectador, em certo ponto do filme nos perguntamos: “Espera aí, será mesmo que isso vai acontecer?” E sendo a resposta positiva ou não, está nesta indagação o mérito de um bom roteiro. Fazer-te esquecer de todos os seus problemas pra se concentrar somente naquilo que te é apresentado.


The Artist surge como franco favorito ao Oscar de melhor filme este ano, e não por menos. É um filme corajoso por trazer um estilo clássico, (e por que não obsoleto?) de volta as telas. Não que agora teremos franquias de filmes mudos e em preto e branco. Mas em tempos de criatividade duvidosa, sempre se é bom desfrutar de filmes com uma premissa ousada e curiosa como a de The Artist.

Nota do André: 9.0 

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